Pátio de compostagem está sendo construído em Uberlândia para reduzir lixo indo para o aterro sanitário — Foto: Dmae/Divulgação

Apesar de gerar, em média, quase 20 mil toneladas de lixo por mês, Uberlândia recicla apenas 7,98% dos materiais sólidos com potencial de reaproveitamento. Além disso, com a maior parte do lixo sendo destinada diretamente ao aterro sanitário, a compostagem atinge menos de 6% do que poderia ser realmente aproveitado (entenda mais abaixo sobre este tema).

Dados disponibilizados pelo Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae), por meio do Residuômetro, mostram que a cidade poderia compostar 55% do lixo orgânico recolhido e reciclar 32% dos recicláveis. Os percentuais, muito aquém do esperado, revelam uma realidade distante da gestão sustentável prevista na Política Nacional de Resíduos Sólidos.

O coordenador de Gestão de Resíduos Sólidos do Dmae, Arthur Rosa Públio, garantiu que o Município trabalha para ampliar os serviços de coleta e reciclagem, com o objetivo de gerar um impacto ambiental mais positivo. No entanto, ressaltou que a conscientização precisa ser uma via de mão dupla.

“A política nacional traz que o poder público deve instituir pelo menos as três frações, que são os recicláveis secos, os rejeitos e os orgânicos. Claro que existe um custo, mas estamos trabalhando para que a gente consiga gerar impacto. Nosso principal desafio é a adesão da população ao serviço. Para melhorarmos nossa coleta, é preciso que as pessoas se conscientizem, façam a separação do lixo e utilizem o serviço da forma adequada”, destacou.

Neste Dia Mundial do Meio Ambiente, o g1 apresenta um panorama da reciclagem de resíduos sólidos em Uberlândia, os serviços disponíveis à população e os projetos em andamento para melhorar a destinação do lixo na cidade.

Coleta seletiva em Uberlândia

Desde 2011, a cidade conta com o serviço de coleta seletiva, que foi ampliado ao longo dos anos para os bairros. Atualmente, 90% do perímetro urbano recebe o ‘ecocaminhão’ pelo menos uma vez por semana, para recolher materiais recicláveis separados pelos moradores e colocados na porta de casa.

As demais regiões, que ainda não recebem o serviço porta a porta, contam com ecopontos ou estações de entrega voluntária de resíduos. O Dmae, inclusive, disponibiliza um mapa de coleta seletiva com os endereços de todos os pontos de entrega de recicláveis ou de logística reversa (pilhas, baterias etc.).

“Até o ano que vem, nós pretendemos expandir o porta a porta para 100% dos bairros. Enquanto isso, é possível agendar grandes volumes — por exemplo, um condomínio, uma empresa, uma instituição que gera um grande volume semanal — e o caminhão vai até lá buscar o material. Esses 10% que restam, que às vezes não conseguimos atender diretamente, podem ter a solução de ir até um ponto de entrega ou agendar a coleta quando houver grande volume”, comentou Arthur Rosa.

Os principais recicláveis coletados em Uberlândia são:

  • Papelão e vidro (mais de 30%)
  • Garrafa PET, latinhas e plásticos em geral (com maior valor agregado)

Para onde vai o lixo reciclável de Uberlândia?

Após a coleta seletiva, os recicláveis são encaminhados para seis associações e uma cooperativa de recicladores parceiras da Prefeitura de Uberlândia. Essas entidades recebem do Município estrutura básica, como galpões e equipamentos, para realizar a triagem e destinação adequada dos resíduos. 

Pontos de coleta para vidros

Há em andamento um projeto para criar pontos de coleta voluntária de vidros em toda a cidade, que deve sair do papel até o próximo ano.

“Var gerar trabalho para os catadores e também prevenir os garis de acidentes. Os coletores sofrem muitos acidentes com vidro quebrado, com vidros em geral. Então, é uma forma também de a gente prevenir e se sensibilizar com essa causa social e preservar os coletores de lixo”, comentou Arthur.

Lixo transformado em energia limpa

Apesar de o aterro sanitário ainda ser a principal forma para destinação do lixo em Uberlândia, desde 2012, o local conta com uma planta de captação e queima de gás metano para a geração de energia elétrica.

O processo começa com a decomposição do lixo domiciliar coletado, que gera metano. Esse biogás é então captado e direcionado a uma planta de queima controlada, onde é convertido em eletricidade. Além de evitar a liberação de gases de efeito estufa, o projeto gera energia limpa e comercializa créditos de carbono.

  • O mercado de créditos de carbono é um sistema de incentivo a tecnologias limpas que permite a empresas e gestores públicos compensarem as emissões de gases de efeito estufa comprando créditos gerados por projetos sustentáveis. Cada crédito representa uma tonelada de CO₂ que deixou de ser emitida.

Atualmente, o sistema opera com quatro geradores, com capacidade de produção de até 5 megawatts-hora (MW/h), energia suficiente para abastecer cerca de 11.544 pessoas.

A operação é conduzida pela empresa Energas, do grupo italiano Asja, em parceria com a Limpebrás, concessionária responsável pela gestão do aterro desde 2008.

Até o momento, já foram negociadas 1.239.555 toneladas de CO₂, resultando em mais de R$ 21,6 milhões em créditos.

Somente em 2024, a tecnologia evitou a emissão de 112.583 toneladas de CO₂, o que equivale, segundo o Dmae, ao plantio de mais de 788 mil árvores.

Conscientizar para reciclar

Com ações educativas mais pontuais e práticas, o núcleo de coleta seletiva em Uberlândia atua com visitas porta a porta, ações em escolas, instituições e empresas.

Conforme informado pelo coordenador de Gestão de Resíduos, o núcleo atende de 10 a 15 mil pessoas por ano.

O Programa Escola Água Cidadã é outra iniciativa para conscientizar a população sobre a importância da reciclagem. O programa atua com foco na conscientização sobre o uso racional da água, reciclagem e descarte correto de resíduos.

Voltado principalmente ao público escolar, mas também aberto a outros segmentos da população, o programa alcança entre 40 a 45 mil pessoas por ano. Desde a criação, já impactou mais de 450 mil pessoas, promovendo a formação de cidadãos mais conscientes e ambientalmente responsáveis.

Mas mais do que trabalhar educação ambiental, é preciso também pensar em políticas públicas que efetivem as práticas sustentáveis. Nesse contexto, o biólogo Gustavo Malacco defende a utilização de instrumentos econômicos para que o poder público possa incentivar a comunidade a reciclar o próprio lixo.

“Você poderia, por exemplo, ter uma redução do seu IPTU ou algum outro imposto municipal, se você demonstrar que tem práticas para reduzir o resíduo orgânico. E ainda, dependendo do tipo de porte de indústria ou empresa, [o Município] ter o controle disso, para que se diminua esse quilo per capita que chega ao aterro sanitário”, sugeriu o ambientalista.

Fonte: G1

https://g1.globo.com/mg/triangulo-mineiro/noticia/2025/06/05/uberlandia-gera-20-mil-toneladas-de-lixo-por-mes-mas-recicla-menos-de-8percent-dos-residuos.ghtml