O setor conta atualmente com 42 indústrias de reciclagem e mais de 30 mil pessoas envolvidas. Foto: Divulgação

Agora RN – 10/06/2025

A cadeia da reciclagem no Rio Grande do Norte já movimenta cerca de 26 mil toneladas de resíduos por mês e gera mais de 24 mil empregos entre vagas diretas e indiretas, mas esse número pode ser dobrado. A estimativa é do presidente do Sindicato das Indústrias de Reciclagem do Estado (SindRecicla-RN), Etelvino Patrício de Medeiros. Segundo ele, o potencial de reciclagem no Estado está longe de ser explorado. “Hoje reciclamos de 22% a 25% do total de resíduos. É possível chegar a 48% apenas com os resíduos secos, e até 72% se incluirmos os resíduos orgânicos”, disse, em entrevista à rádio CBN Natal.

Com cerca de 80 a 85 mil toneladas de resíduos sólidos gerados mensalmente no Estado, menos de um terço é reciclado. Ainda assim, o setor conta atualmente com 42 indústrias de reciclagem e mais de 30 mil pessoas envolvidas em toda a cadeia, incluindo os 6 mil empregos diretos nas fábricas e mais de 18 mil empregos indiretos, muitos deles ocupados por catadores e cooperativas. “Estamos falando de uma atividade que gera tributo, renda e reduz impacto ambiental. E ainda estamos apenas no começo”, afirmou.

Etelvino explicou que, entre os materiais mais valorizados, estão os metais não ferrosos, como alumínio, cobre e bronze, com destaque para a latinha de alumínio, cujo quilo pode chegar a R$ 10. “É por isso que o catador tem um olhar mais atento para esse tipo de material. Todo refrigerante ou cerveja consumida vira oportunidade de renda”, explicou. Mas não para por aí. O setor também trabalha com plásticos (PET, polietileno), papelão, vidro, óleo vegetal usado e resíduos da construção civil.

Além disso, o Rio Grande do Norte exporta recicláveis para países da Ásia, Europa e América. “Temos empresas que enviam ferro e resíduos eletrônicos para o exterior. Computadores e celulares velhos são desmontados em centros de beneficiamento especializados, que extraem metais como ouro, prata e lítio”, revelou o presidente do sindicato.

O setor ainda enfrenta entraves, principalmente na base da cadeia, composta pelos catadores. Apesar de sua função social e ambiental, a maioria atua sem apoio institucional e sem reconhecimento legal. “Essas pessoas fazem um trabalho que muitos cidadãos não fazem. Elas saem cedo, recolhem resíduos que poderiam estar separados e prontos para coleta, mas estão misturados ao lixo comum. Elas não recebem nenhum auxílio por isso”, criticou.

Segundo Etelvino, já existe previsão legal para que prefeituras contratem associações de catadores como prestadoras de serviço ambiental, mas a burocracia trava a efetivação dessas medidas. “O que defendemos é que a base esteja fortalecida. Se os catadores forem apoiados, conseguimos aumentar muito o volume de material reaproveitado”, afirmou. O SindRecicla lançou em 2024 o projeto “Adote um Catador”, para incentivar a população a separar os resíduos secos e repassar diretamente aos catadores do bairro.

Etelvino também apontou falhas na cultura de reciclagem e educação ambiental. Disse que a temática só ganha visibilidade no mês de junho, durante a Semana do Meio Ambiente, e que isso é insuficiente. “O meio ambiente é todo dia. A gente gera resíduo todos os dias. Educação ambiental tem que começar nas escolas, com as crianças”, declarou. Para ele, o senso de urgência é evidente diante das mudanças climáticas em curso. “O Rio Grande do Sul está debaixo d’água, o Norte do País enfrenta rios secando, o planeta está dando sinais. Não dá para continuar empurrando com a barriga.”

O presidente do SindRecicla também comentou o papel da indústria potiguar na economia circular e citou avanços em diálogo com o Governo do Estado, sobretudo na questão tributária. No entanto, afirmou que ainda há muito a avançar em políticas públicas consistentes. “A reciclagem é um setor que atende ao social, ao econômico e ao ambiental sem perder nenhum desses pilares. A gente só precisa que ele seja levado a sério como atividade econômica. Está tudo pronto para crescer.”

Para quem quer contribuir, Etelvino é direto: separe os resíduos secos dos molhados em casa, armazene corretamente e procure saber quem são os catadores ou associações no seu bairro. “Se o catador souber que ali naquela casa o material já está limpo e separado, ele ganha tempo, ganha produtividade e todos ganhamos com isso. A reciclagem começa com cada um.”

“Reciclar protege o meio ambiente e gera renda ao mesmo tempo”

Para o presidente do SindRecicla-RN, Etelvino Patrício de Medeiros, a reciclagem é uma atividade que alia três frentes de impacto imediato: meio ambiente, economia e inclusão social. Em entrevista à CBN Natal, ele afirmou que essa é uma das poucas cadeias produtivas que geram resultados positivos em todas as pontas. “Reciclar é proteger o meio ambiente e gerar renda ao mesmo tempo. É dar destino correto ao resíduo e transformar lixo em oportunidade”, disse.

Segundo ele, a base da reciclagem está nos catadores, que fazem um trabalho silencioso, mas fundamental. “São pais e mães de família que saem às ruas e cumprem uma função ambiental que o poder público e a população muitas vezes ignoram”, afirmou. Etelvino defende que os governos assumam essa cadeia como política pública, contratando associações de catadores para prestação de serviços ambientais e ampliando o apoio direto à atividade.

Para o setor crescer, ele acredita que é preciso ir além da Semana do Meio Ambiente. “Esse tema tem que estar nas escolas, nas campanhas públicas, nas decisões de consumo. Só vamos avançar quando a reciclagem deixar de ser assunto de junho e passar a ser prática diária.”

Na prática, a mudança começa dentro de casa. Etelvino sugere que qualquer cidadão pode fazer a diferença ao separar os resíduos secos dos molhados e repassá-los diretamente a catadores ou recicladores próximos. “É uma ação simples que reduz custo para o município, reduz lixo em aterros e ainda leva renda para quem precisa. E o planeta agradece.”

Fonte: Agora RN

https://agorarn.com.br/economia/reciclagem-ja-gera-24-mil-empregos-no-rn-e-pode-dobrar-sua-capacidade