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Monitor Mercantil – 10/07/2025
A destinação incorreta dos resíduos sólidos urbanos é um dos maiores desafios ambientais do planeta, e o Brasil ainda ocupa posição de destaque negativo nesse cenário. De acordo com a Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema), mais de 30% dos municípios brasileiros ainda descartam seus resíduos em lixões a céu aberto.
Essa realidade contrasta com práticas adotadas em diversos países, que já contam com infraestrutura avançada, metas ambiciosas de reciclagem e legislações mais rígidas de controle ambiental. Enquanto isso, no Brasil, a taxa de reciclagem gira em torno de apenas 4% do total de resíduos gerados, reforçando a urgência de soluções mais eficientes e sustentáveis.
Um exemplo recente desse impacto vem do exterior, mas reverbera diretamente no território brasileiro: um lixão irregular na cidade peruana de Iñapari, sem qualquer tipo de controle técnico, contaminou o rio Acre, que deságua no Amazonas. A situação gerou um alerta ambiental e de saúde pública, mostrando como as fronteiras não impedem a propagação dos efeitos do descarte inadequado.
É o retrato de um problema global que exige responsabilidade compartilhada, mas que, no Brasil, ainda esbarra em desafios profundamente estruturais.
Lixões ainda existem. Mas por quê? E qual o real custo disso para o país?
A persistência dos lixões no Brasil expõe fragilidades na gestão dos resíduos sólidos urbanos, especialmente em municípios de pequeno e médio porte. A falta de planejamento integrado, incentivos técnicos e financeiros, regulamentações locais eficazes e programas contínuos de educação ambiental compromete a implantação de soluções adequadas para a destinação final dos resíduos. Essa carência, aliada à ausência de apoio regional e linhas de fomento específicas, leva muitos municípios a operarem à margem da legislação, recorrendo ao descarte irregular como alternativa prática diante das limitações existentes.
Os lixões, áreas ilegais de descarte sem preparo técnico, controles ou monitoramento, agravam os problemas ambientais e sociais. O depósito direto do lixo no solo contamina lençóis freáticos, favorece a proliferação de vetores de doenças, promove o lançamento de chorume em corpos d’água e gera emissões descontroladas de gases de efeito estufa. Além de representar um risco severo à saúde pública, essa prática viola a Política Nacional de Resíduos Sólidos, configurando crime ambiental. Persistir nesse modelo é mais que uma negligência legal: é um retrocesso que compromete o equilíbrio dos ecossistemas e o futuro das cidades brasileiras.
Superar esse cenário exige ação coordenada entre governos, investimento contínuo em infraestrutura e educação ambiental, além do compromisso firme com modelos sustentáveis que priorizem a saúde pública e o meio ambiente. A alternativa está no fortalecimento de políticas públicas estruturantes e na implementação de práticas responsáveis e eficazes de gestão dos resíduos.
Aterros sanitários: estrutura, tecnologia e responsabilidade ambiental
A substituição dos lixões por estruturas ambientalmente seguras passa, necessariamente, pela adoção de aterros sanitários devidamente licenciados e tecnicamente bem operados. Diferente das áreas de descarte irregular, os aterros sanitários contam com projetos de engenharia, sistemas de impermeabilização, drenagem, captação e tratamento de chorume e biogás, além de diversos monitoramentos ambientais, que evitam a contaminação do solo, das águas superficiais, subterrâneas e da atmosfera.
Sua implantação exige rigor técnico, cumprimento de normas ambientais, estudos de viabilidade e licenciamento prévio em diferentes esferas. São estruturas complexas, que demandam mão de obra especializada, gestão integrada e constante atualização tecnológica para garantir eficiência operacional e segurança ambiental. Mais do que infraestrutura física, os aterros são sistemas técnicos e operacionais complexos que exigem investimentos consistentes e profissionais altamente capacitados para manter a conformidade com os padrões legais e ambientais.
Além disso, os aterros sanitários precisam estar inseridos em uma estratégia sistêmica de gestão de resíduos, que envolva também reciclagem, compostagem e outras rotas de valorização. Quanto mais eficiente e funcional for essa engrenagem, menor será a quantidade de resíduos que realmente chega à etapa final, fortalecendo a sustentabilidade do processo e tornando o sistema mais equilibrado e resiliente no longo prazo.
Energia limpa: como os aterros transformam resíduos em solução energética
Com o uso de tecnologias avançadas, os aterros modernos captam o biogás gerado na decomposição dos resíduos orgânicos e o transformam em energia, como o biometano, combustível limpo que se revela como uma alternativa a fontes fósseis e contribui significativamente para a redução das emissões de CO₂. Esse processo não apenas contribui para a transição energética do país, como também fortalece a economia circular ao dar um novo destino a materiais que, até então, seriam considerados sem valor.
Aterro 4.0: tecnologia, qualificação e impacto social real
A nova geração de aterros vai além da destinação. Com sensores, automação e gestão em tempo real, o modelo 4.0 permite controle absoluto sobre emissões, estabilidade geotécnica e eficiência operacional — sempre com equipes técnicas altamente qualificadas e um foco constante em inovação e segurança.
Outro diferencial está no impacto social positivo. Os aterros modernos promovem educação ambiental nas comunidades do entorno, geram empregos diretos e indiretos e contribuem para o desenvolvimento regional com responsabilidade e diálogo.
Um exemplo concreto é a UTGR de Jambeiro, braço de destinação de resíduos e energia renovável do Grupo Multilixo, reconhecido por operar a primeira usina 100% off-grid do Brasil que transforma o biogás gerado no aterro em biometano de alta pureza. Com capacidade para produzir mais de 10 milhões de metros cúbicos por ano, a unidade evita a emissão de aproximadamente 170 mil toneladas de CO₂. Com tecnologia de ponta, a UTGR de Jambeiro é referência nacional em gestão de resíduos e geração de energia renovável, consolidando o Grupo Multilixo como líder na transição para uma economia circular.
O que separa o risco da solução?
Entender o papel do aterro sanitário é fundamental para reconhecer sua importância na cadeia da sustentabilidade. Longe de ser apenas um local de descarte, o aterro é uma estrutura estratégica que garante a segurança ambiental, viabiliza a geração de energia limpa e promove impacto social positivo.
Mais do que pontos finais na cadeia de resíduos, os aterros sanitários são marcos de inovação, segurança e responsabilidade ambiental. Diferentemente dos lixões, que não deveriam ser considerados opção, os aterros sanitários representam uma das soluções técnicas e sustentáveis fundamentais para garantir saúde pública, proteger o meio ambiente e impulsionar a transição para uma economia circular.
Fonte: Monitor Mercantil