Ecobarreiras instaladas em Manaus (Foto: Dhyeizo Lemos/Semcom)

AM1 – 11/05/2025

Lixeira viciada, esgoto a céu aberto e igarapé poluído. Isto é apenas um recorte da realidade do saneamento básico vivido pelos moradores de grande parte da capital do Amazonas.

Manaus está entre as cidades brasileiras com as piores notas em saneamento básico, como pontua a pesquisa do Trata Brasil 2024 ao divulgar a capital na 86ª posição. Outras cidades do Norte com Macapá em 99° lugar e Porto Velho em 100° finalizam o ranking.

A situação é preocupante, visto que apenas 21,8% do esgoto gerado em 2022 foi tratado e a falta deste procedimento pode adoecer a população. O dado é do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS).

Dos mais de 32 milhões de brasileiros sem acesso ao esgotamento sanitário, 1,5 milhão residem na capital, e o contato com a água contaminada pode ser a causa de diversas doenças:

  • Diarreia;
  • Cólera;
  • febre tifoide;
  • hepatite A;
  • esquistossomose e
  •  leptospirose.

Existem também outras Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI), como dengue, febre-amarela, malária e doença de chagas, transmitidas por inseto vetor.

Segundo o levantamento do Trata Brasil, em 2024, o Amazonas registrou mais de cinco mil e quinhentas internações de DRSAI.  Em toda a região Norte, 35.397 casos foram registrados.

Com mais de dois milhões de habitantes na cidade de Manaus, 73,9% da população não tem coleta de esgoto, diz o instituto.

Ronald Terço da Silva, de 23 anos, é morador do bairro Castanheira, próximo de um dos 150 igarapés que cortam o município. Ao Portal AM1, o trabalhador cotou que na região existem vários pontos tomados por lixo.

“Ali onde minha família mora começa a ficar um pouco mais precário, lixeira viciada [acúmulo de lixo na rua], esgoto a céu aberto, esse tipo de coisa, a gente mora bem próximo dessas situações,” disse Terço.

Questionado sobre como funciona o saneamento básico no bairro, Ronald afirmou que a atuação da prefeitura deixa a desejar, visto que em outras regiões o processo de saneamento é realizado.

“Não é um bom saneamento, ele funciona em algumas regiões de Manaus, em outras não têm saneamento básico,” pontuou Ronald.

A professora da Universidade Federal do Amazonas Klenna Peixoto, destacou que a realidade amazônica impõe muitos desafios por causa de suas particularidades socioeconômicas, geográficas e climáticas.

Com um aterro controlado às margens da AM- 010, próximo do fechamento, a capital enfrenta outro desafio, construir um aterro sanitário até 2028.

A proposta seria construir o aterro sanitário no bairro Tarumã, mas existe uma preocupação dos políticos com a contaminação do Igarapé do Leão, que fica próximo à localização escolhida para o empreendimento da empresa Marquise Ambiental.

“Embora o aterro controlado minimize os impactos ambientais típicos dos lixões, ele enfrenta desafios substanciais, tais como a escassez de tecnologias avançadas de tratamento e a insuficiência de soluções sustentáveis para a destinação final dos resíduos. Essas limitações comprometem a eficiência do sistema, que necessita de um planejamento mais sólido e de investimentos em alternativas tecnológicas e ecológicas que possam atender às exigências ambientais de maneira mais eficaz e duradoura,” pontuou a professora.

Segundo o advogado Fabrício Soler, especialista em direito ambiental e resíduos, desde 2010 o Brasil tem uma nova política nacional de resíduos sólidos que prevê o fim dos aterros controlados e lixões e, no caso de Manaus, a legislação não está sendo seguida.

“Não faz qualquer sentido, em pleno 2025, onde o Brasil recepciona o Fórum Mundial de Economia Circular e recepciona a COP 30 na região amazônica, ainda se deparar com situações lamentáveis como essa de lixões em operação em pleno 2025,” disse o especialista.

A reportagem procurou a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e o secretário François Vieira Matos para questionar sobre o aterro e as medidas que estão sendo tomadas em relação à limpeza dos Igarapés, mas não houve resposta. O espaço segue aberto.

Quem são os heróis invisíveis do lixo? 

Terço atua como catador há dois anos na Associação de Reciclagem e Preservação Ambiental (ARPA), e destacou que já viu muita coisa na reciclagem, que não deveria fazer parte da coleta. Seringas, fraldas e até fezes, foram encontradas por ele durante o trabalho.

“A gente acaba tocando em alguns materiais químicos, pegamos uma coceira aqui ou ali, pegamos em um material bem sujo, orgânico que vem misturado, comida, fezes, fraldas e isso não é bom a gente ficar inalando, até seringa mesmo, este tipo de lixo hospitalar também chega na nossa mão,” disse o catador.

Com o descarte irregular realizado pela população, o risco de ferimentos durante o trabalho dos catadores é grande, mesmo com o Equipamento de Proteção Individual (EPI) fornecido pela associação.

“Tem o perigo de acabar se ferindo catando o material, com garrafa de vidro cortada, latinhas de refrigerante e de conserva, este tipo de material,” disse o catador.

Fonte: AM1

https://amazonas1.com.br/crise-do-saneamento-em-manaus-expoe-riscos-a-saude-e-ao-meio-ambiente