No Brasil, o índice de reciclagem de resíduos plásticos bateu recorde em 2019, chegando a 24% — Foto: Getty Images
Globo – UM só planeta 11/05/2025
Produtores de plástico têm promovido a “reciclagem avançada” como um alívio para a crise dos resíduos plásticos, apesar de saberem há anos que não é uma solução técnica ou economicamente viável, argumenta um novo relatório do Center for Climate Integrity (CCI), um grupo de defesa da responsabilidade pelos combustíveis fósseis.
A reciclagem avançada, também conhecida como reciclagem química, refere-se a uma variedade de processos usados para quebrar plásticos em suas moléculas constituintes. A indústria tem promovido cada vez mais essas tecnologias, à medida que a preocupação pública com os efeitos ambientais e à saúde causados pela poluição plástica aumenta. No entanto, a implementação dessas tecnologias tem sido marcada por problemas, segundo a análise.
“As empresas fazem parecer que é muito bom, como se fosse algo que deveríamos buscar. Mas elas conhecem os problemas, as limitações”, disse Davis Allen, pesquisador investigativo do CCI e autor do relatório, ao Guardian.
Os processos de reciclagem química foram patenteados na década de 1950 e têm sido apontados como uma solução para o desperdício de plástico por grupos comerciais desde a década de 1970. Em 1977, um folheto da Sociedade da Indústria do Plástico afirmava que a forma mais comum de reciclagem avançada, a pirólise, permitiria que os resíduos plásticos fossem “reciclados em matérias-primas que poderiam ser reutilizadas para produzir novos plásticos”, observa o relatório.
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Apesar de existirem há décadas, essas tecnologias ainda não foram implementadas em larga escala porque enfrentam fortes limitações. Um dos problemas é que os processos são caros, exigindo grandes quantidades de energia, combustível e mão de obra. Em 1991, uma empresa de pesquisa de mercado afirmou que “a economia desses processos não foi demonstrada” e, em uma reunião comercial de 1994, o vice-presidente da Exxon Chemical, Irwin Levowitz, chamou a pirólise de “fundamentalmente antieconômica”, afirma a análise.
Allen argumenta que a indústria não conseguiu destacar os desafios econômicos da reciclagem avançada nem suas limitações técnicas. O grupo industrial America’s Plastic Makers, parte do grupo comercial do Conselho Americano de Química, frequentemente afirma que os processos podem transformar resíduos plásticos em “plástico novinho em folha”. No entanto, muitas instalações de reciclagem química não transformam plástico em plástico novo; em vez disso, produzem apenas combustível. “Isso enfraquece a alegação de que eles estão criando uma economia circular, não é circular se você não estiver usando os materiais para fabricar novo plástico”, disse Allen.
Além disso, itens pós-consumo não podem ser facilmente processados com reciclagem avançada, afirma o relatório. O processo funciona melhor com insumos limpos e homogêneos e, como a triagem e a limpeza de produtos de consumo são caras, muitas instalações que trabalham em escala processam principalmente resíduos industriais limpos e sem tingimento.
Outro problema que a indústria não aborda publicamente com frequência, segundo o relatório, é a poluição causada pela reciclagem avançada. Embora “a indústria do plástico posicione a reciclagem avançada como uma solução ecologicamente correta para os resíduos plásticos”, os processos emitem poluentes tóxicos que causam o aquecimento global.
A indústria reconhece esse fato internamente, afirma a análise, observando um relatório de 2024 da consultoria Roland Berger que aborda a pegada de carbono “substancial” da reciclagem avançada, e uma apresentação da indústria de 2023 da empresa de engenharia AMI Consulting, que afirmou que os efeitos ambientais das tecnologias “precisam ser levados a sério”.
As limitações da reciclagem avançada geralmente não são mencionadas publicamente pelas empresas, mas há muito tempo são levantadas por ambientalistas. Em particular, os interesses da indústria têm dado credibilidade a essas preocupações. “O ecossistema de informações em torno da reciclagem avançada é totalmente dominado pela própria indústria”, disse Allen. “Nossa esperança é que nosso trabalho forneça às pessoas as ferramentas necessárias para analisar e avaliar as alegações da indústria.”
Fonte: Um só planeta
