Foto: Amanda Oliveira/Agência Mural
Agência Mural – 07/05/2025
Ocas, bananeiras, pés de abacate, nascentes de água, galinhas e cachorros soltos compõem a paisagem da aldeia indígena Filhos desta Terra, localizada no bairro do Cabuçu, em Guarulhos, na Grande São Paulo.
A reserva abriga representantes de diferentes etnias, como Pankararé, Guajajara, Tupi e Timbira que resolveram se unir para ocupar o local.
O território foi habitado pelos indígenas em 2017, após anos de abandono e degradação. O local funcionava como um aterro sanitário irregular, onde eram despejados todo tipo de lixo — até animais mortos.
Mesmo com entraves, a área foi ocupada por indígenas que vieram de aldeias de vários outros lugares – como Pernambuco e outros bairros de Guarulhos, como o Pimentas.
De 30 a 35 famílias de diferentes etnias trabalham para recuperar o espaço e preservar a herança ancestral em Guarulhos, cidade que desde o nome é espaço indígena.
Hoje, os povos residentes já colhem os frutos desse esforço: é possível ver árvores frutíferas, como abacateiros, bananeiras e até chuchu. Tem mais de 10 nascentes de água e algumas até com peixes.
No entanto, apesar do esforço coletivo, a aldeia indígena no Cabuçu ainda enfrenta diversos desafios. Muitas obras permanecem inacabadas, como as casas de madeira, as ocas utilizadas em apresentações culturais e os espaços de recreação.
Awa Tupi, uma das lideranças da aldeia, destaca que apesar de terem ocupado o território em 2017, a luta para manter viva a história indígena vem de muito antes. “São 525 anos de resistência, a gente vem lutando para manter essa cultura, o que não é fácil. Quando chegamos nesta terra, em Guarulhos, não seria diferente”, afirma.
O líder – que foi um dos responsáveis pelo primeiro encontro dos povos indígenas em Guarulhos no ano de 2008, que reuniu 800 pessoas de diversas etnias – menciona que o grande problema encontrado pelos povos é a ausência de políticas públicas que possam fortalecer a herança indígena no município.
A falta de recursos dificulta investimentos para garantir melhorias no local e uma convivência mais digna entre os moradores. “Como custear as obras se não tem recurso?”, questiona Simone Pankararu, outra liderança da comunidade e uma das responsáveis pelas visitas guiadas à aldeia.
“O projeto para a nossa aldeia, criado pela própria prefeitura, inclui um polo básico de saúde, uma escola, uma cozinha comunitária, um CRAS, criadouro de peixes e espaços culturais e nada disso foi cumprido. Nossas ocas estão incompletas e tudo que fazemos aqui é com nossos próprios recursos”, diz Simone Pankararu.
Segundo ela, o artesanato sempre foi a principal fonte de renda, mas a comercialização é difícil. “A prefeitura organiza um evento indígena por ano, geralmente no mês de agosto, o que ajuda, mas é algo muito pontual”, lamenta.
Uma alternativa para manter financeiramente a aldeia indígena tem sido a visitação guiada, agendada por escolas, grupos e visitantes individuais. As visitas são pagas e oferecem uma imersão cultural no cotidiano da comunidade, aproximando os visitantes das tradições, saberes e modos de vida dos povos originários.
Conforme afirma ativista todo esse trabalho é uma luta para se manter livre. “Morar numa aldeia tem todo diferencial para que possamos exercer a nossa tradição de forma livre, longe do preconceito e de outras limitações”, diz.
Fonte: Agência Mural
https://agenciamural.org.br/aldeia-indigena-cabucu-guarulhos