Renata Fridman, Jamir Kinoshita Amanda Brito Orleans: avanços modestos — Foto: Leo Pinheiro/Valor

Valor Econômico – 25/09//2025

Pouco mais da metade das vagas reservadas às pessoas com deficiência (PcD), por meio da Lei de Cotas, está preenchida atualmente no mercado de trabalho formal do país, totalizando 634,6 mil com deficiência ou reabilitadas, de acordo com o Ministério do Trabalho. Só no primeiro semestre deste ano, 63,3 mil PcDs ou pessoas reabilitadas pela Previdência Social foram contratadas no país, de acordo com o eSocial. Os dados foram divulgados um dia após a data de comemoração do Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência, no domingo (21), para destacar os avanços na inclusão laboral. Apesar de sinais de progresso, a meta da Lei de Cotas ainda não foi alcançada, ressalta em nota o MTE.

O cenário segue sendo desafiador para esse grupo em razão da baixa acessibilidade nas empresas para receber trabalhadores com diferentes tipos de deficiência. Para Renata Fridman, advogada e fundadora da Rede do Abraço, que promove a inclusão produtiva de PcDs, as empresas têm boa intenção, mas não sabem como começar.

“Isso vai desde o desenho da vaga até a contratação, permanência e planejamento para ascensão. É um importante fator que acaba tirando esses candidatos do radar das companhias”, disse ao participar da Live do Valor + Valor Social, área de responsabilidade social da Globo, que aconteceu ontem (24).

Jamir Kinoshita, advogado e pesquisador do CPCT/USP e PcD motora, disse que as empresas deveriam promover uma remodelagem do processo seletivo. Em vez de partir do desenho da vaga, o ideal seria fazer primeiro a interação com possíveis candidatos para perceber suas habilidades e conhecimentos. “Só depois disso partir para a contratação. Muitos ficam na porta por não preencher todos os requisitos de uma vaga”, afirmou.

Amanda Brito Orleans, confundadora da Inclusi, empresa de inclusão de pessoas com deficiência, lembra que as barreiras arquitetônicas e as atitudinais são as mais difíceis de serem vencidas.

“Eu só consegui entrar no mercado de trabalho por concurso público. Antes disso, fui reprovada em todos os processos seletivos. O retorno não era pela qualificação técnica, mas pela deficiência por estar em cadeiras de roda”, conta.

Depois de dez anos, Amanda decidiu seguir no mercado como empreendedora na Inclusi. “Já conseguimos impactar mais de 64 mil profissionais. E quando comecei a apoiar o empreendedorismo, vimos que há muita falta de empoderamento pessoal, porque é realmente mais difícil. É a saída mais efetiva, mas não se deve associar com a precarização do trabalho”, afirma.

Pesquisas mostram que as pessoas com deficiência precisam de mais apoio com formação técnica e direcionada para o mercado de trabalho, diz o pesquisador da USP. Para Kinoshita, a Lei de Cotas funciona, mas deveria ser fortalecida entre as pessoas com deficiência que realmente precisam de formação técnica para conseguir uma oportunidade de trabalho. “Há uma discussão sobre flexibilizar a lei, mas esse não é o caminho.”

Fonte:  Valor Econômico

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2025/09/25/ingresso-de-pcd-no-mercado-de-trabalho-e-desafio.ghtml