Reprodução / Marquise Ambiental

Capital Reset – 05/09/2025

Não é de hoje que os resíduos orgânicos da agricultura, da pecuária e do lixo produzido nas cidades brasileiras têm potencial econômico. É possível gerar até mesmo um combustível sustentável que substitui o gás natural de origem fóssil sem a necessidade de adaptações nos equipamentos ou na infraestrutura de distribuição.

Conhecido como biometano, ele promete descarbonizar setores desafiadores como a indústria e finalmente começa a deslanchar no Brasil. Apesar dos incentivos para desenvolver essa nova cadeia de energia limpa, ainda é preciso desatar nós, de acordo com pessoas ligadas ao setor ouvidas pelo Reset.

A matéria-prima da alternativa sustentável são resíduos orgânicos de qualquer tipo. No processo de decomposição, eles geram biogás, que depois de purificado pode substituir o combustível fóssil em qualquer aplicação – com a vantagem da neutralidade em carbono. Os restos da produção agrícola, principalmente em usinas de cana-de-açúcar, o lixo acumulado em aterros sanitários e os gases das estações de tratamento de esgoto representam um enorme potencial.

Hoje, os principais nomes à frente da produção são a Gás Verde, a GNR Fortaleza, a Raízen e a Cocal, mas novos atores começam a chegar ao mercado. A gestora de aterros sanitários Orizon acabou de receber aval da Agência Nacional do Petróleo (ANP) para uma primeira planta em Pernambuco.

Outras três seguem em análise pelo órgão. Há ainda mais projetos no radar, mas para bater o martelo a empresa está à espera de avanços no setor, principalmente da regulamentação da Lei do Combustível do Futuro. “Já são 500 mil metros cúbicos contratados. Pelo menos outros 500 mil seriam mais rapidamente destravados se tivéssemos melhorias regulatórias”, diz Jorge Elias, diretor de engenharia da companhia.

A regulamentação pelo Ministério de Minas e Energia é esperada não só pela Orizon, mas por diversos elos do setor. A lei cria a obrigação de compra do combustível renovável por parte dos produtores e distribuidores do gás fóssil, o que deve garantir nova demanda aos produtores.

Os detalhes ainda estão em definição. Uma das incertezas é quanto ao percentual obrigatório já em 2026, que a princípio seria de 1%. Gargalos A criação de demanda é apenas um dos gargalos.

A precificação das vantagens ambientais pode contribuir para o desenvolvimento do setor, diz a presidente da Abiogás, Renata Isfer. Isso significa “separar” o atributo climático do produto. Por exemplo: uma fabricante de cerâmicas quer descarbonizar seus fornos, mas não tem um fornecedor de biometano que a atenda. A companhia pode continuar utilizando o gás fóssil e adquirir certificados de utilização da alternativa limpa.

O modelo é semelhante ao utilizado no setor elétrico e também está previsto na Lei do Combustível do Futuro. “É importante que o atributo ambiental possa ir para quem efetivamente quer descarbonizar”, afirma Isfer.

Em São Paulo, Estado com maior potencial de geração de biometano, será necessário investir de R$ 30 bilhões a R$ 46 bilhões na produção do gás renovável, mais outros R$ 2,9 bilhões em gasodutos, segundo estudo da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

No documento, lançado em junho, a associação industrial faz um diagnósticos dos entraves e sugere alguns caminhos para superá-los. De forma geral, afirma que há um descasamento entre oferta e demanda.

A expansão da rede de gasodutos também impõe limites ao desenvolvimento dessa nova indústria. Em muitos casos, o biometano tem de ser transportado por caminhões, o que aumenta o custo e inclui emissões de carbono na conta climática do produto.

O Brasil tem 9,7 mil km de gasodutos de transporte, que funcionam como espinha dorsal de distribuição. México e Argentina têm cerca de 18 mil km, segundo o Global Energy Monitor. Na Alemanha e na Itália, países bem menores, os dutos passam de 10 mil km.

Gasodutos

A distância até a malha de gasodutos é justamente um dos motivos para a sucroalcooleira Tereos ainda não ter começado a investir no biometano comercialmente. Com atividade no extremo noroeste de São Paulo, ela está a 100 km da conexão mais próxima.

“A construção da planta é viável comercialmente, mas o custo da distribuição por caminhão deixa esse negócio menos atrativo. Agora tivemos o anúncio de uma distribuidora para os próximos cinco anos que pode mudar o jogo”, afirma Felipe Mendes, diretor de sustentabilidade e de novos negócios da Tereos.

Fonte: Capital Reset

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