(Foto: Divulgação)
Com investimentos de cerca de R$ 200 milhões, aterro sanitário construído pela Marquise, e que chegou a ser embargado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-AM) por problemas ambientais, tem capacidade, segundo a empresa, de abastecer 170 mil casa com gás natural produzido pelos resíduos depositados na estrutura.
A informação foi dada pela empresa nesta terça-feira (20) durante visita técnica ao aterro, que fica localizado na BR-174. A visita contou com a participação de representantes da Companhia de Gás do Amazonas (Cigás). Segundo a empresa, o tempo estimado para o início da produção de biometano é de três anos, após o recebimento dos resíduos.
O Centro de Tratamento e Transformação de Resíduos do Amazonas (CTTR) O centro também tem capacidade para purificar 250 mil litros de água para reuso industrial, utilizando o mesmo sistema já aplicado no aterro sanitário da Marquise em Fortaleza.
O presidente da empresa, Hugo Nery, afirmou que vêm mantendo contato com a Prefeitura de Manaus para por a nova estrutura em atividade.
“Em relação à nossa comunicação, nós continuamos conversando com a administração pública sempre. E entendo as preocupações da administração, mas tenho absoluta convicção de que a gente vai mostrar os benefícios de usar o CTTR (Centro de Tratamento e Transformação de Resíduos) que já está construído”, disse.
Nery lembrou que 2025 é o ano da COP-30, que ocorrerá em Belém, e que todos os debates estarão voltados às práticas mais sustentáveis, o que pode representar uma oportunidade de dar maior visibilidade ao novo aterro.
“A COP-30 é uma oportunidade de dar uma visibilidade à estrutura ambiental de saneamento e todo o aspecto ambiental. Ao nosso foco de enfrentamento do aquecimento global. Se a Prefeitura de Manaus vai acessar o financiamento específico para essa atividade, a administração municipal deve estar conversando com o Governo do Estado, federação e fazer ali que suas necessidades sejam satisfeitas dentro de um custo adequado”.
Representação no TCE-AM
O aterro sanitário da Marquise foi alvo de representação no TCE-AM. As licenças ambientais emitidas pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) foram suspensas por representarem risco à fauna e à flora, especialmente ao Igarapé do Leão, que poderia ser assoreado.
No entanto, em 2024, o Ipaam declarou que o aterro “passou por todas as fases de um processo que busca a regularização ambiental para a atividade de um aterro sanitário, atividade complexa e cheia de regramentos e normas”, e que os técnicos “que participaram de tal processo trabalharam com a maior lisura e transparência que o caso requer, à luz das normas e legislações pertinentes”, determinando apenas o monitoramento constante da avifauna local.
Apesar de pronto, o aterro ainda não recebe os resíduos de Manaus, que continuarão sendo descartados no aterro controlado municipal até 2028.
Questionado sobre como está a situação com os órgãos de controle e os possíveis prejuízos ao bioma, Hugo Nery afirmou que, atualmente, o aterro atende aos critérios das instituições responsáveis e que, para a empresa, os órgãos ambientais fazem parte do processo.
“Os nossos maiores parceiros do Brasil são os órgãos de controle, eles participam ativamente do nosso dia a dia, fazendo nossas autorizações e até avaliações da nossa performance”, afirmou.
O aterro sanitário está localizado a 200 metros do Igarapé do Leão, que antes poderia ser visto, mas agora está com vegetação recuperada. Segundo o diretor comercial da empresa, Thiago Levy, quando a Marquise chegou ao local, metade da nascente estava assoreada, pois a área onde o novo aterro foi implementado era usada para extração ilegal de areia.
“Essa área que vocês veem aqui verde hoje. Apesar de estar desmatada aí pela sua vegetação original, toda essa área era um grande areal. Já estava completamente degradada, e uma das funções do nosso empreendimento foi resgatar toda essa vegetação ao redor, porque todo esse maciço que vocês podem ver estava escorregando e assoreando o Igarapé do Leão, que faz parte de uma reserva”, disse.
Questionado sobre as questões ambientais e possíveis irregularidades atribuídas à Marquise, o presidente da empresa afirmou que a área foi recuperada e que as licenças foram obtidas justamente porque o terreno havia perdido sua vegetação nativa e era alvo de extração de areia. Ele disse ainda que a empresa já levou os órgãos fiscalizadores para conhecerem o local.
Contaminação e prejuízos
Sobre a possibilidade de contaminação e prejuízos à floresta, Nery garantiu que o material utilizado na impermeabilização da área é reforçado e seguro.
“A Amazônia, como um todo, é uma área sensível. O nosso CTTR tem todo um processo de contenção que garante o fato de você não ter nem de fuga de material para absolutamente nenhum bioma junto ao nosso equipamento. Isso significa que a gente tem todo o sistema de última geração, que faz essa contenção”.
O presidente acrescentou que o CTTR também realiza o monitoramento e a contenção das águas da chuva, bem como o controle da superfície e do subsolo ao redor do empreendimento, garantindo a preservação do bioma ao redor.
Durante o evento, a Marquise Ambiental afirmou que não quer apenas “transportar o lixo”, como faz atualmente em Manaus, em operação dividida com a Tumpex. Com o novo investimento no aterro, a empresa pretende também destinar os resíduos e aproveitar a oportunidade de produção de biometano.
Nery afirmou que já ofereceu visitas técnicas à gestão municipal para apresentar o aterro de Caucaia, mas que ainda não foi possível. Mesmo assim, ele acredita que, na COP-30, esses diálogos poderão ser potencializados pela visibilidade do evento.
Em visita técnica ao novo aterro, foi apresentada a estrutura impermeabilizada para a coleta de chorume, caso um dia os resíduos da capital passem a ser depositados ali. A estrutura realiza osmose reversa do chorume, transformando-o em água desmineralizada. Embora não seja própria para consumo, a água poderá ser utilizada em processos industriais, um dos pontos fortes da economia manauara, com a Zona Franca.
“Apesar desse aterro ser menor do que o de Caucaia, se espera que essa água desmineralizada seja quase a mesma proporção da produzida lá, em razão da alta precipitação de chuva do estado, coisa que não temos lá”, explicou Thiago Levy, diretor comercial.
Fonte: A Crítica