EIXOS – 01/02/2025

Mercado livre de gás deslancha com dezenas de novos contratos. Mas enquanto São Paulo convive com aumento das migrações em 2025, no Rio a abertura desacelera.

Petrobras reduz preço do gás em 1%. Desoneração beneficia Sergipe Águas Profundas. Projeto de hidrogênio quer concorrer com térmicas a gás no LRCAP. Natura amplia consumo de biometano e mais.

O mercado livre de gás natural, enfim, começa a deslanchar no Brasil. Se a realidade dos últimos anos era de apostas pingadas, aqui e ali, a abertura agora se propagou – e entra em 2025 com migrações na casa das dezenas.

Os dois principais centros de consumo do país (São Paulo e Rio de Janeiro), que viram o mercado livre nascer apenas em meados de 2024, porém, começam o ano em tendências destoantes.

No Rio, a abertura deu os primeiros passos com as siderúrgicas (CSN, Ternium e Gerdau), mas travou diante de uma barreira regulatória.

A indústria fluminense cobra, agora, senso de urgência para o fim do impasse entre a Agenersa (o regulador) e a Naturgy (controladora da CEG e CEG Rio) sobre os limites mínimos necessários para migração.

Enquanto isso, em São Paulo, o mercado livre ganhou tração: ao todo, segundo a Arsesp,  já foram assinados 44 contratos entre usuários livres e as distribuidoras de gás canalizado para uso do sistema de distribuição – o Cusd.

Com isso, o volume de gás contratado no mercado livre, em São Paulo, ultrapassou em janeiro os 3 milhões de m3/dia – o que representa cerca de 30% da demanda no estado, de acordo com o regulador.

Só na área de concessão da Comgás, cerca de 2,7 milhões de m³/dia migraram do mercado cativo para o livre até o momento, informou a distribuidora.

Mas, afinal, em que pé estamos?

Efeito manada

O desenvolvimento do mercado livre tem sido, em número de usuários, puxado pela indústria ceramista, mas não se limita a ela.

Empresas dos setores de petroquímica (Braskem), papel e celulose (CMPC Celulose Riograndense), alimentos e bebidas (M. Dias Branco) e de vidros (Saint Gobain) também estão embarcando – ou se preparando para migrar.

Para Pedro Franklin, diretor-executivo da NewGas (consultoria criada em 2024 por ex-membros da Comerc), a abertura do mercado tem sido impulsionada por uma espécie de “efeito manada”.

A partir do momento em que as primeiras indústrias começaram a se lançar com sucesso, outras se sentiram mais confiantes a seguir o movimento.

Na visão do consultor, a regulação do mercado livre, pelos estados, deixou de ser um impeditivo, embora em alguns casos ainda haja barreiras (vide o Rio) ou em outros – poucos casos – as regulamentações ainda estejam sendo discutidas (caso do Paraná).

“Mas o que existe hoje nos principais estados já é suficiente para migrar”.

Franklin faz a ressalva, contudo, de que há regulações que contribuem para aumentar os custos do setor. Um exemplo disso é a Taxa de Fiscalização e Controle sobre a Comercialização – de 0,5% do faturamento anual diretamente obtido com a comercialização em São Paulo, por exemplo.

Diversificação também na oferta

A diversificação ocorre não só na base dos clientes livres, mas também na oferta: desde 2024, estrearam na comercialização de gás, no mercado livre, empresas como Brava Energia, BTG Pactual Commodities, Edge, Eneva, MGás, Origem e Voqen.

Essa nova dinâmica concorrencial, somada ao contra-ataque da Petrobras, tem contribuído para pressionar o preço do gás para baixo – e, por consequência, estimular as migrações.

“A Petrobras começou a perder mercado, reposicionou-se, está pegando mercado novamente, tomou uma decisão estratégica de ir mesmo para a indústria. E os outros vão ter que reduzir os preços”, afirma Franklin.

Se num primeiro momento da abertura do mercado de gás, entre 2021 e 2022, os fornecedores de gás apostaram na venda para as distribuidoras, a tendência agora é que gradativamente o volume destinado inicialmente ao cativo seja realocado no mercado livre.

“A maioria das distribuidoras já está contratada [a longo prazo]”.

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Fonte: Eixos
https://eixos.com.br/newsletters/newsletter-gas-week/mercado-livre-de-gas-enfim-deslancha-rio-e-sao-paulo-comecam-2025-com-perspectivas-diferentes/